sábado, 20 de junho de 2009

Paulina




Minha mãe morreu dia 19, último. Pequena. Seu pequeno caixão negro. Simples, como ela. Nasceu em 1933. Depois de 13 anos de Alzheimer, um agressivo câncer a levou. Quem sabe dizer o que sentem os que sofrem de Alzheimer? Sabem? Choram? Sentem algo? Seus olhos cerrados, nos últimos anos, e sua postura encurvada e retorcida, não dava a entender que nos ouvisse ainda. Mas, a moça que dela cuidou, Neide, sentia sua vida viva, e por passar cada minuto dos últimos anos com ela - cuidando dela com muito carinho - sentiu muito sua partida. Sentimos também, mas de outro modo. Sua morte, lembrou-nos de quando era plenamente viva. Suas risadas, suas tardes em casa, tomando café, suas fase motorizada, num possante fusca laranja 'tala larga'. Ela vindo me buscar no ballet. Seu rosto escondido por trás do volante, subindo a rua, apenas despontando. Lembro dela trazendo um saquinho de papel branco com pão e sal, na inauguração de nosso escritório. Lembro de sua vinda para me consolar num momento difícil. Lembro muito. Tudo encerrado no pequeno caixão negro no meio da sala. Tão só como a vida lhe deixou, ao reservar-lhe este mal tão mau, o mal de Alzheimer.