domingo, 23 de janeiro de 2011

Água, corrupção e omissão

O que aconteceu estes dias na região serrana do Rio de Janeiro tem dois nomes principais: omissão e corrupção.

Omissão, no Rio e no Brasil todo. Omissão em regularizar-se o uso do solo; em entender que o povo tem de morar; que o povo também quer ter moradia segura, com serviços e bens básicos; que o povo tem que ter transporte urbano suficiente e decente, de preferência público, mantido e controlado pelo estado, pois se ele mora num local seguro, porém distante do local de trabalho, deve ter facilidade de deslocamento. Omissão em retirar pessoas de morros e periferias inundáveis, e conduzí-las para lugares seguros e decentes. Estamos todos muito tristes e cansados de ver esta situação ano, após outro.

Corrupção, porque as leis, e as leis ambientais particularmente, são absolutamente ignoradas por toda parte. Não é um privilégio do estado do Rio. Mas, lei, não se pode desconhecer! Assim, porque não deixamos, nas margens de rios e lagoas, as distância livres que a lei, minimamente, estabelece? Por que não conservamos matas? Por que permitimos que morros sejam decepados por toda parte, pra serem depois sustentados por inseguros muros de arrimo? Por que impermeabilizamos e compactamos o solo sem fim, em estradas, estacionamentos, quintais e ruas, selando-o à passagem da água? Por que não destinamos o óleo corretamente para que este não seja lançado na natureza, plastificando os poros do chão? Corrupção das empresas que devem coletar o lixo. O lixo mal coletado, ou não coletado, termina na água. Os rios ficam assoreados, entupidos, e a água, é fácil de dizer, sobe.

Governos, em todas as suas esferas, mas especialmente os locais, as prefeituras, são inegavelmente omissos e corruptos. Não educam o cidadão para não lançar dejetos nas ruas para que não entupam bueiros, para não desmatar, para não lançar óleo no ambiente, para separar seu lixo e dar-lhe destinação correta. Não apóiam ou mantém programas de separação de lixo reciclável - garrafas e sacos plásticos represam os rios, que sobem com as chuvas. Agentes públicos vendem, por tostões, 'habite-se' de caras propriedades construídas em locais impróprios. Triste realidade. As pessoas pagam com suas vidas.

As chuvas podem ter sido implacáveis mais esta vez. Pode ser este um fenômeno cíclico, ou consequência das funestas mudanças climáticas globais, que não sabemos se já começaram a se manifestar. De qualquer forma, elas mostram o quanto estamos despreparados. Com muito menos água, nossos governantes já estarão expostos em suas fracas, omissas e corruptas administrações. Em sua falta de visão de curto e médio prazo. Uma cegueira, no mínimo criminosa!