segunda-feira, 19 de setembro de 2011

ESTATUTO DO HOMEM


(Ato Institucional Permanente)

A Carlos Heitor Cony


Artigo I

Fica decretado que agora vale a verdade.

agora vale a vida,

e de mãos dadas,

marcharemos todos pela vida verdadeira.

Artigo II

Fica decretado que todos os dias da semana,

inclusive as terças-feiras mais cinzentas,

têm direito a converter-se em manhãs de domingo.

Artigo III

Fica decretado que, a partir deste instante,

haverá girassóis em todas as janelas,

que os girassóis terão direito

a abrir-se dentro da sombra;

e que as janelas devem permanecer, o dia inteiro,

abertas para o verde onde cresce a esperança.

Artigo IV

Fica decretado que o homem

não precisará nunca mais

duvidar do homem.

Que o homem confiará no homem

como a palmeira confia no vento,

como o vento confia no ar,

como o ar confia no campo azul do céu.

      Parágrafo único:

O homem, confiará no homem

como um menino confia em outro menino.

Artigo V

Fica decretado que os homens

estão livres do jugo da mentira.

Nunca mais será preciso usar

a couraça do silêncio

nem a armadura de palavras.

O homem se sentará à mesa

com seu olhar limpo

porque a verdade passará a ser servida

antes da sobremesa.

Artigo VI

Fica estabelecida, durante dez séculos,

a prática sonhada pelo profeta Isaías,

e o lobo e o cordeiro pastarão juntos

e a comida de ambos terá o mesmo gosto de aurora.

Artigo VII

Por decreto irrevogável fica estabelecido

o reinado permanente da justiça e da claridade,

e a alegria será uma bandeira generosa

para sempre desfraldada na alma do povo.

Artigo VIII

Fica decretado que a maior dor

sempre foi e será sempre

não poder dar-se amor a quem se ama

e saber que é a água

que dá à planta o milagre da flor.

Artigo IX

Fica permitido que o pão de cada dia

tenha no homem o sinal de seu suor.

Mas que sobretudo tenha

sempre o quente sabor da ternura.

Artigo X

Fica permitido a qualquer pessoa,

qualquer hora da vida,

o uso do traje branco.

Artigo XI

Fica decretado, por definição,

que o homem é um animal que ama

e que por isso é belo,

muito mais belo que a estrela da manhã.

Artigo XII

Decreta-se que nada será obrigado

nem proibido,

tudo será permitido,

inclusive brincar com os rinocerontes

e caminhar pelas tardes

com uma imensa begônia na lapela.

      Parágrafo único:

Só uma coisa fica proibida:

amar sem amor.

Artigo XIII

Fica decretado que o dinheiro

não poderá nunca mais comprar

o sol das manhãs vindouras.

Expulso do grande baú do medo,

o dinheiro se transformará em uma espada fraternal

para defender o direito de cantar

e a festa do dia que chegou.

Artigo Final.

Fica proibido o uso da palavra liberdade,

a qual será suprimida dos dicionários

e do pântano enganoso das bocas.

A partir deste instante

a liberdade será algo vivo e transparente

como um fogo ou um rio,

e a sua morada será sempre

o coração do homem.



Thiago de Mello


Santiago do Chile, abril de 1964

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

O arquiteto Luiz Gerbassi apresentou , no dia 12/09/2011, ao grupo de Amigos do Cosme Velho (Facebook) o que parece ser o projeto de sua vida. Aplicou a este "nó" da cidade chamado Corcovado um estudo abrangente e integrador, testado já em outras cidades do mundo. Com embasamento logístico e estatístico, o projeto desvendou-se numa proposta que contempla, de forma inovadora, os anseios dos moradores do Cosme Velho por paz, e uma vizinhança harmoniosa. Com clareza, demonstrou o que todos sabem: se veículos são a fonte de problemas, e este é o caso do acesso ao Corcovado - carros, táxis, vans e ônibus -, ao criar-se espaço para acomodá-los, como estacionamentos, muitos mais virão. E, aquilo que a edificação de um estacionamento visa resolver, piorará. Dos pontos expostos pelo especialista Gerbassi, os que mais se destacaram são a exclusividade do transporte coletivo no acesso ao Cristo; a unidade deste transporte, de forma que se pode subir num veículo e descer noutro, no primeiro que houver; a criação de mecanismos tarifários para distribuir melhor o fluxo de visitantes; a recuperação de áreas agora degradadas do Parque nacional da Tijuca; a redução da circulação de veículos na área do Parque e a consequente redução na carga de poluição na mata. Tudo isto tem um profundo efeito no entorno, na vizinhança do bondinho, e no conceito de urbanismo e turismo. Foi uma grata surpresa este interlocutor tão qualificado entre o grupo. Ele dá a todos que o ouviram, ou tem acesso ao seu trabalho, a esperança de que o entendimento de que a cidade necessita desenredar-se de sua 'carromania' é também uma visão de quem "está" governo.

segunda-feira, 12 de setembro de 2011

Hotel Felicidade, de Barbara Xumaia!