segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O futuro bate à porta.

Não sou uma entusiasta das novidades eletrônicas. Mas, hoje, ao comprar a versão 2011 do livro de Português do meu filho (porque a editora modificou - sacanamente! - a versão 2010), e desembolsar R$ 95,00, eu me revoltei! Num vislumbre, o futuro me veio. Por inteiro! E ele acontece
nas escolas.

Alunos não tem mais livros escolares. Seus Ipads, ou o aparato eletrônico do momento, aquele que lhes cabe no bolso, comporta todas as matérias escolares. Os livros didáticos, de R$ 95,00, R$ 100,00 e R$ 120,00 estão todos ali compactados. E mais, os livros de literatura também. E as referências de que possam precisar, dicionários, enciclopédias e tabelas periódicas.

E a escola? Ela existe no futuro? Sim, claro! A escola existe e se dedica aos afazeres coletivos. Artes, assembléias, equipes de pesquisa, mutirões, troupes, elencos, forças-tarefa, grupos de estudo e oficinas. As aulas acontecem nos amplos espaços da escola e de seu entorno, sua vizinhança. Os participantes, alunos , mestres e funcionários destinam as horas de convívio para desfrutar da força sinergética de trabalho conjunto. Não há mais aprendizado individual no ambiente coletivo das salas de aula do passado. 

E há deveres? Os aprendizados básicos, ficam para o aluno realizar em casa, no trem ou na escola, nas bibliotecas e salas de estudo, com livros ou seus "DL" - didáticos-eletrônicos. Professores circulam e respondem dúvidas e propõem desafios. Alunos discutem a matéria a ser estudada, a política e sua participação nas melhorias de seu entorno.

E as editoras, como ficam? Bem, estas que nos prestaram tantos serviços, mas, que por artifícios maliciosos vem , há muito, nos fazendo, pais, despender tanto...  ah, estas terão que buscar outras formas de se inserir no mercado. Produzir conteúdos de qualidade, interativos e "linkados", por exemplo. Desprendê-los! Como a música, os jornais e as imagens, os livros didáticos também estão prestes a sair da cena privada para entrar para o aberto e incontrolável mundo da eletrônica. Para o bem e para o mal, quem viver um pouquinho mais, verá! Aguardem.

domingo, 27 de fevereiro de 2011

De Abelhas e Revoluções

Abelhas estão desaparecedo, enquanto povos oprimidos, os árabes desta vez, estão saindo às ruas e demonstrando seu descontentamento com velhos e cruéis ditadores. Haverá relação entre estes fatos? Sim , e seu elo são as grandes corporações.

No triste caso das abelhas, a mortandade se deve ao emprego ilimitado de agrotóxicos por empresas do agronegócio - o macro modelo de agricultura não sustentável. O cultivo de alimentos que pressupõe o emprego de venenos não pode se perpetuar. E as abelhas, com suas vidinhas, nos alertam disto. Numa vista rápida, nesta batalha com corporações que visam o lucro irresponsável, perdem as abelhas. Mas estudando o caso melhor, perdemos todos. As abelhas, além de produzirem mel, são as mais importantes polinizadoras do ecossisetma. Perdemos nós e nossos fornecedores: o agrobusiness.

No caso das revoluções, no Egito, Tunísia, Behrein e Líbia, as corporações envolvidas são as petroleiras e suas empresas multi-tentaculares. A manipulação maquiavélica destes conglomerados corporativos que mantém no poder, nestes países, ditadores "simpáticos", por décadas sem fim é, também, como no caso do agronegócio, insustentável! A revolta popular tardou, mas está acontecendo. Será uma pena se estes mega negócios e seus acionistas, se governos e  mídias que os apóiam não entenderem a mensagem esbravejada nas ruas e nas redes.

Governos e fóruns e organizações mundiais, devem aproveitar o momento de profunda crise social e ambiental e avançar corajosa e verdadeiramente em direção à demanda de novas posturas e novos comportamentos de corporações e indivíduos no mundo.

Dance me to the end of love

Dance me to the end of love, de Leonard Cohen, na versão da Klezmer Conservatory Band

sábado, 19 de fevereiro de 2011

Conhecimento que não se mede

Por Denise Wasserman

Sábado de sol, em pleno verão carioca, recebo um telefonema:

-Que tal vir aqui em casa, à tarde, para estudar Lévinas?

Estava na praia, sentada em baixo de uma barraca, olhando para o mar...

-Estudar filosofia em plena tarde de sábado?

-Traz empadinhas do Salete (restaurante).

Não é todo dia que se é convidada para um programa como este e, no mínimo, pensei, iria tirar uma onda de “intelectual chic”.

Saí da praia, passei no Salete (o das empadinhas), e após algumas horas peguei o meu livro “Quatro Leituras Talmúdicas”, que comprei empolgada, mais pela paixão deste meu amigo por este filósofo francês do que por vontade própria. Fiz algumas poucas tentativas de leitura, mas acabei deixando o livro descansando na bancada do computador.

Fui para a Sinagoga dos Judeus Baixinhos.

“Que Sinagoga é essa?”

Imaginem um sobrado charmoso em Botafogo. No meio do corredor, subindo para o segundo andar, se encontra uma portinha. Você tira os sapatos como se fosse entrar num tatame, mas na verdade você está entrando na Sinagoga dos Judeus Baixinhos.

Complicou de novo?

A sala em questão é uma espécie de sotão e a altura é de 1m e 80 (acho que até menos, pois tenho 1m e 64 e já estava quase batendo com a cabeça).

Mas como a ideia era sentar em uma das cadeiras, sofá ou mesmo no chão, a altura era um mero detalhe. Em volta, livros e mais livros, e um ambiente propício para altas reflexões.

Nosso anfitrião, empolgado com a presença dos amigos começou a leitura e a partir daí, fizemos uma longa viagem que durou cerca de duas horas.

Ah! Também tinha um gatinho que entrava e saía, pulava e sentava para ser acarinhado. Absorvida pela leitura, fui desperta por umas “mordidinhas” no dedão do pé. Era o gatinho que também queria atenção.

Ler Emmanuel Lévinas requer concentração, algo difícil para mim, mas ler com detalhes e reflexões de outras pessoas é diferente, principalmente porque o grupo presente era bastante eclético. Um psicanalista, um ator, uma bióloga, um arquiteto, uma cantora, um....(acho que um me escapou) e eu, jornalista.

No capítulo escolhido do livro, a “Tentação da tentação”, que segundo o autor, talvez descreva a condição do homem ocidental, ávido para experimentar de tudo, “apressado por viver, impaciente por sentir”...A tentação da tentação é a filosofia que se opõe à sabedoria que sabe tudo sem experimentá-lo.

Interessante isso, não?

Dentro ou fora do contexto de nossa leitura percebi que somos sempre tentados aos novos desafios, que ao experimentá-los podemos decidir se queremos ou não nos envolver em situações que nem sempre nos são apresentadas como nossas escolhas e sim, a dos outros.

Se você compartilha do desejo do outro, e este desejo passa a ser seu também, creio que encontramos um ponto em comum ao qual podemos chamar de afinidade.

Posso não ser uma grande conhecedora de filosofia, nem tão pouco uma intelectual, mas gosto de adquirir conhecimentos, vivências e depois de um certo tempo transformá-las em experiências (nem todas confessáveis).

No retorno para minha casa pensei o quanto agradável tinha sido aquele final de tarde e como sete pessoas que pouco se conheciam poderiam trocar confidências através de um texto filosófico.

Foi apenas um primeiro encontro, mas outros certamente estarão por vir...na Sinagoga dos Judeus Baixinhos