
Ele estava doente há três anos. Foi triste vê-lo neste processo de degeneração. Além disso, ele há muito dizia que não queria partir e deixar minha mãe. Ele esperou que ela fosse. Ela se foi em junho, depois de um longuérrimo Alzheimer. Ninguém merece. Garanto a você.
Doença cã.
Mesmo com eles doentes há muito, perdê-los, mesmo na idade em que estou, parece com perder seu guarda chuva em meio ao temporal. Parece que o telhado da casa voou num vendaval. Algo assim.
Parece que depois de perder ambos, caminho pelas ruas de São Paulo solta, sem lastro, sem ligação. Penso mesmo se a cidade pode ser para mim, sem eles. Quem me trará de volta? Qual o vínculo? Se alguém me perguntasse antes isto, se minha relação com a cidade passava por eles, eu teria rido. 'Jamais!', provavelmente, teria dito. Mas, caminhando nas redondezas da casa onde eles moraram no final, tudo isto surgiu em mim. Senti-me sem identidade.
Por isso rezamos sete dias, ou guardamos o luto por este tempo. Depois falamos no assunto com um mês. Depois com ano, quinquênio, decênio, cinquentenário de morte...São marcos inscritos no metabolismo das nossas células.
Como estou já de volta à vida normal, e só hoje faz uma semana que ele partiu, atropelei o tempo da vida para viver o luto. Deu esta melancolia. Ela bem cabe. Oro meu próprio Kadish, por meu próprio pai e minha própria mãe.
2 comentários:
Querida amiga, nem soube que seu pai faleceu. Sinto muito. Mesmo tão atrazado, receba meus sentimentos e meu carinho..... Vamos tentar nos encontrar? Bjs. Lucinha
Querida Maysa, ayer falleció mi padre y hoy recordé este texto en tu blog, que había leído en 2010. En ese momento, tocó mi alma y sentí una profunda empatía por tu sentir por la pérdida de tu padre. Hoy busqué el texto con poca expectativa por encontrarlo: ¿existirá todavía en la red el blog de Maysa? Para mi maravilla, ¡lo encontré! y no sólo éso, por segunda vez te sentí dentro de mi corazón. Gracias - Gracias - Gracias por tu texto, por compartir tus sentimientos con tanta simpleza. Hoy, me siento tal como vos en 2009. ¡Qué bueno que lo encontré! Ya lo guardo en mis archivos y en el corazón. Abrazos para vos, Luis y toda la familia
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