Se a classe média usa os serviços públicos, ela colabora com a melhoria destes, com críticas feitas a partir de suas experiências, com o melhor domínio de ferramentas para sugestões, reclamações, etc. Penso no uso de Escolas Públicas, serviços de saúde (Postos de Saúde e hospitais), transporte - ônibus e metrô - e espaços públicos, como praças e parques. Uma coisa muito simples, que torna a cidade mais igual. Uma experiência, digamos, banal para sociedades de países mais democráticos e avançados.
(sobre isso, houve comentários interessantes:
Luciana
Pinsky comentou: "Quantos amigos você tem que colocaram os filhos em
escola pública? Eu tenho pouquíssimo, inclusive nos defensores da escola
pública. Meu filho caçula está em uma CEI e posso dizer que hoje conheço muito
melhor - mas ainda pouco - de como funciona uma escola pública. Eu acho que os
políticos deveriam colocar filhos e netos em escola pública. Mas não como forma
de punição (pois às vezes parece que serviços públicos são associados a
punição), mas como aproximação para poderem, enfim, pensar melhor em políticas
públicas para educação."
Ao que respondi: "Perfeito Luciana
Pinsky. Na minha vida, essa é uma experiência rara. E por que a classe
média não experimenta nesse sentido, o fosso na sociedade brasileira só
aumenta. Chegamos onde chegamos.
Juliane
P. R. Gomes acrescentou que “A classe média prefere viver endividada
para pagar caro por serviços q poderiam ser gratuitos, pois assim alimenta sua
ilusão de q pertence a uma elite da qual na verdade nunca fará parte.”
Andréa
Cals colocou: Quando meus filhos tinham 7 anos (são gêmeos),
coloquei-os na Anne Frank, uma escola pública aqui em Laranjeiras. Era
considerada a melhor da rede, e é do lado do Palácio Guanabara. Pois era muito
fraca. De ensino e de recursos. De doer. Na época, decidi pagar (como
colaboração, claro) uma espécie de mensalidade que correspondia a um pouco
menos que uma mensalidade que eu tinha pago na creche, pq era o que eu podia (era
freela e sustentava meus filhos sozinha). Mas entendi que não podia continuar
com meus filhos lá. Não era justo com eles, e nem mesmo com as crianças que
perderam suas vagas pq eles estavam lá. Muito duro, muito difícil e acho que
seria uma solução se cada vizinhança adotasse uma ou mais escolas públicas do
seu bairro. A maioria das pessoas sabe apontar e condenar os menores delinquentes,
mas ninguém se preocupa em colaborar para que exista uma escola que lhes dê
oportunidades. Precisamos entender que SOCIEDADE implica direitos e deveres com
a cidade e com seus concidadãos. Quando entenderemos isso?)
Capítulo 1.
Estou sem plano de saúde. Resolvi deixar os fantasmas que
aterrorizam a classe média de lado e fui ao Posto de Saúde próximo à minha
casa. Havia várias filas, por regiões dos bairros vizinhos. Ultra civilizado.
Em 5 minutos chegou a minha vez, e como boa integrante da perfumada Classe
Média, eu não tinha carteira do SUS. A atendente pediu meu CPF, o digitou,
falou meu nome, imprimiu um papel com minha carteirinha, e pediu que eu
voltasse amanhã para atendimento com esse documento, a identidade e um
comprovante de endereço. Abaixo, minha primeira e mega-fotogênica Carteirinha
do SUS, "válida em todo o território nacional". Baita orgulho, gente!
Capítulo 2.
Coloquei no Face que estou sem plano de saúde e que resolvi
ir ao Posto de Saúde do SUS para fazer uma consulta e exames. Vamos ver como
isso se dará. Mas, minha amiga Rita
Voss gentilmente fez o seguinte relato: "tive câncer de mama em
2009. Meu plano de saúde ainda estava em carência e não podia esperar. Fiz a
cirurgia em hospital particular e fiquei sem dinheiro para o tratamento. Meu
médico me indicou a Santa Casa de São Paulo para fazer o tratamento pelo SUS.
Fiz a ficha e já marcaram todas os dias do tratamento. Ficava numa sala com
diversos pacientes, sem nada de luxo, era só para tratamento exclusivamente.
Nunca atrasaram o atendimento é fui muito bem tratada. Mas creio que fiquei
doente numa época em que o atendimento à saúde era prioritário. De agora em
diante ficará mais difícil tratar qualquer doença imagina um câncer.
Quimioterapia é caríssima."
Capítulo 3.
Coloquei no Face que estou sem plano de saúde e que resolvi
ir ao Posto de Saúde do SUS para fazer uma consulta e exames. Vamos ver como
isso se dará. Mas, relata o amigo Naslauski Silvio: sou portador
de HCV, há mais de 20 anos, nessa época tinha plano de saúde que pagava
parcialmente as despesas de exames, ai conheci numa ONG o Dr Evaldo Stanislau, que
me indicou o SUS aonde tive um excelente atendimento e a medicação de alto
custo disponibilizado para todo o tratamento!
Capítulo 4.
Coloquei no Face que estou sem plano de saúde e que resolvi
ir ao Posto de Saúde do SUS para fazer uma consulta e exames. Vamos ver como
isso se dará. Mas Flora
Holzman, me disse e contou: "Seja bem vinda a esta turma. O
atendimento na cidade de São Paulo andou perfeitamente na cidade de São Paulo.
Exames que antes demoravam dois anos, passaram a ser feitos em menos de dois
meses. Consultas, sem problema. Pelo menos enquanto temos Haddad SP. Posso
garantir, pois há cinco anos só uso o SUS. Dependendo da sua região a UBS é
mais ou menos completa e mais ou menos eficiente, mas eu acho o serviço muito
melhor que o plano de alto nível dos meus filhos, acredite. Já tive de esperar
6 horas por atendimento de minha filha médica em hospital de primeira linha em
Higienópolis (bem debilitada e grave), enquanto eu, na véspera, havia sido
atendida em 1 hora (e sai medicada e com medicação para todo o tratamento de
pneumonia) na véspera, tendo passado pela AMA. Pra vc ver...
A gestão anterior (ao Haddad) esperei nada menos que dois
anos por um exame de ultrassom transvaginal. Esperei tanto pelo exame e pela
consulta subsequente que, quando consegui, a médica do posto já havia sido
substituída e o resultado já não valia mais, tive de fazer novo exame. Hoje,
pelo menos na atual gestão, além de marcarem seus exames logo após a consulta,
ainda telefonam para confirmar e lembrar você da data e horário.
E não tem essa de dizer que não fazem exames mais
sofisticados. Fiz, há menos de cinco meses, uma tomo de pulmão no Graacc por
encaminhamento do SUS. Solicitação atendida em menos de 15 dias e atendimento
impecável. Fosse plano de saúde, talvez nem aprovassem o pedido ou poderiam até
levar algumas semanas para deliberar se era ou não necessária. Aliás, a título
de informação, muitos hospitais com pronto-socorro que atendem planos básicos
ou considerados de segunda-linha (e aqui omito os nomes para não complicar a
vida dos usuários e dos médicos) sequer possuem tomógrafos. São obrigados a
transferir...
Já quem é atendido em uma AMA, por exemplo, (que atende todo
o mundo igual, desde o morador de rua, até a classe média), se estiver em
estado grave e precisar de tomo, por exemplo, é encaminhado de ambulância para
o hospital na companhia de um médico e é este que "entrega" o
paciente ao outro profissional (médico) no hospital ao qual foi encaminhado.
Capítulo 5.
Coloquei no Face que estou sem plano de saúde e que resolvi
ir ao Posto de Saúde do SUS para fazer uma consulta e exames. Vamos ver como
isso se dará. Mas, minha querida amiga Claudia Heller, apresenta um
relato para lá de realista. Será que a frequência de mais gente de classe média
nestes locais não pode trazer uma crítica positiva e construtiva? Pelo jeito há
algumas coisas relativamente simples de se solucionar. Mais aí vai o que ela conta:
"Tenho a carteirinha há uns três anos. Fiz a minha quando fui fazer a do
meu pai. Rápido e sem burocracia. Nunca usei a minha (tenho e uso até a última
gota um seguro saúde privado, contratado quando o SUS era inviável).A do
meu pai uso todo mês na Farmácia de Alto Custo.
Filas de 3 hs no mínimo, em ambiente sem ventilação
suficiente, que eu chamaria de insalubre pois quem está lá está doente ou
convive de perto com gente que está doente.
Os atendentes são gentis e atenciosos. Mas muitas vezes faltam medicamentos.
O problema é de infraestrutura e de gestão.
Os atendentes são gentis e atenciosos. Mas muitas vezes faltam medicamentos.
O problema é de infraestrutura e de gestão.
E de concepção também: medicamentos de uso contínuo poderiam
ser entregues para 3 meses em vez de mensalmente.
Perde-se um período de trabalho.
Quem mora longe perde o dia inteiro.
Os usuários fazem a conta que compara o valor do medicamentos com o desconto do salário. Como o salário em geral é baixo e os medicamentos são caros, decidem pela ida ao SUS.
Funciona, mas há muito para ser melhorado. Mas vai piorar, com a crise a demanda tende a aumentar - já tem aumentado, visivelmente."
Os usuários fazem a conta que compara o valor do medicamentos com o desconto do salário. Como o salário em geral é baixo e os medicamentos são caros, decidem pela ida ao SUS.
Funciona, mas há muito para ser melhorado. Mas vai piorar, com a crise a demanda tende a aumentar - já tem aumentado, visivelmente."
Capítulo 6.
Depois do Capítulo inicial, em que contei que estou sem
plano de saúde e resolvi experimentar o SUS para uma consulta e exame de
rotina, prossigo. Voltei depois de ter minha carteirinha e fiz, num outro dia,
o cadastro. Foi rápido. Como da primeira vez, fui atendida dentro da minha
regão (o posto está dividido em regiões dos bairros vizinhos). Soube do horário
- para minha região - em que o médico que procurava atende e marquei uma
consulta com um clínico geral para dali a dois meses. Recebi um papel,
preenchido pela atendente com o dia e o horário da consulta. Tudo segue dentro
da mais perfeita normalidade.
Capítulo 7.
Contei que estou sem plano de saúde e que estou
experimentando o SUS. Depois de ter o cadastro, voltei no dia seguinte para uma
consulta no horário em que a atendente de meu bairro falou que o médico
estaria. Depois de uma espera de uns 30 minutos para que a atendente me
recebesse (havia uma fila na "minha região" ), fui encaminhada para
uma médica. Fui extremamente bem atendida, numa sala limpa, arrumada, e
perfeitamente adequada; fui questionada com as perguntas que qualquer médico
privado faz. Ao fim do exame, a doutora me pediu um exame de imagem e disse que
ele é feito no Rio Imagem, em frente à Central do Brasil (um local junto ao
Metrô). A data será marcada pela "minha atendente" e ela levará até a
minha casa essa informação. Estranho, não? Mas ouvi que é assim mesmo. E isso
deve demorar de 1 mês e meio a 2. Como não tenho qualquer queixa de saúde, o
tempo é esperável. Tudo segue de forma absolutamente tranquila. Estou super
feliz!
Capítulo 8.
Estou vendo como funciona o SUS indo lá e sendo atendida. Ao
comentar a experiência, a querida Miriam Madureira trouxe
seu relato pessoal. Aqui vai: "Também usei o SUS bastante quando estava em
SP 2013 e 2014, Maysa! Comigo e com meu filho. Atende na hora se você estiver
doente e for à consulta para atendimento direto, ou ao AMA. Eu fui várias vezes
ao AMA Sorocabana, na Lapa (de SP). Também me mandaram para um cardiologista
noutro bairro, para um Check-Up, e foi excelente. Também com espera de 2 meses,
mas não era urgente. Exames podem demorar mais. Fiz alguns por minha conta.
A atendente passa pela sua casa uma vez por mês (mais ou
menos), pede para falar com você, pergunta se vc. e sua família têm tido
problemas de saúde, se estão vacinados, se têm controlado mosquitos de
Dengue... se achar que deve pede para entrar, para ver se você vive em situação
de salubridade, se existem problemas graves (p.ex., violência) na
família...."
Capítulo 9.
Depois desse curto relato, vieram os comentários (ediatdos):
18/12/2016
Lutero Renato
Esta e a enfermaria da Urologia do Hospital Pedro Ernesto onde estou internado pelo SUS com um atendimento a nivel de primeiro mundo. Esta foto deveria ser esfregada nas fuças destes jornalistas de merda que so sabem retratar desgraças e desconhecem o trabalho exercido por estes profissionais que mesmo até sem receber os seus salarios corretamente destes governantes ladrões não deixam de nos dar um atendimento de excelência.
03/01/2017
Pois é, a última postagem algo super positivo sobre o Hospital Pedro Ernesto, um hospital estadual no Rio de Janeiro... e hoje, o relato de Flávia Lopes, que coloco em seguida. Veja que no último mês ficou clara a falência econômica do Estado do Rio de Janeiro. Servidores estaduais estão sem receber salários desde novembro de 2016. Estamos hoje no dia 3 de janeiro de 2017. Aí vai.
Feliz 2017 e Greve Geral na Saúde Pública! :(
Nova vinda ao hospital, fomos recebidos com a discussão de uma médica com alguém do outro lado da linha que não queria dizer se tinha a QT (bolsa de quimioterapia)... A médica sem se dar conta da gente começou a se desesperar dizendo que era contra a greve, mas que já não tinha forças, pq são anos lutando... Sem remédios, sem cateter, sem sangue, sem leitos disponíveis e agora sem salário... Disse que não vão poder aceitar uma nova paciente. Todos com olhares tensos, perdidos...
Eu chorei com uma enfermeira que disse que tem enfermaria que ninguém aparece. Ninguém!!! Tem funcionário que só trabalha aqui, fazer como? Os que tem outros lugares estão pagando pra trabalhar pq não recebem do estado!
Uma médica da hemato ficou fazendo plantões desde o ano novo aqui, indo de enfermaria em enfermaria... Nos corredores uma paciente com leucemia desde às 7:00 tentando a vaga... Soube que fecharam mais de 100 leitos, o plantão geral, setor dos adolescentes de 12 fecharam 8 leitos... Sensação estranha de impotência... :(
Eu chorei com uma enfermeira que disse que tem enfermaria que ninguém aparece. Ninguém!!! Tem funcionário que só trabalha aqui, fazer como? Os que tem outros lugares estão pagando pra trabalhar pq não recebem do estado!
Uma médica da hemato ficou fazendo plantões desde o ano novo aqui, indo de enfermaria em enfermaria... Nos corredores uma paciente com leucemia desde às 7:00 tentando a vaga... Soube que fecharam mais de 100 leitos, o plantão geral, setor dos adolescentes de 12 fecharam 8 leitos... Sensação estranha de impotência... :(
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