quarta-feira, 15 de julho de 2009


Sossega, coração! Não desesperes!

Talvez um dia, para além dos dias,

Encontres o que queres porque o queres;

Então, livre de falsas nostalgias,

Atingirás a perfeição de seres.

Mas pobre sonho o que só quer não tê-lo!

Pobre esperença a de existir somente!

Como quem passa a mão pelo cabelo

E em si mesmo se sente diferente,


Como faz mal ao sonho o concebê-lo!
Sossega, coração, contudo! Dorme!

O sossego não quer razão nem causa.

Quer só a noite plácida e enorme,

A grande, universal, solente pausa

Antes que tudo em tudo se transforme.


Fernando Pessoa, 1933










Fernando Pessoa, 2-8-1933.

Nenhum comentário: