quinta-feira, 23 de julho de 2009

Baias in-humanas

Trabalho num local com baias. Baias para humanos. Todos podem ver o topo das cabeças do vizinhos. Poder-se-ía imaginar que num lugar assim, onde cada um trabalha em sua baia, com seu computador individual, todos falar-se-íam e trocariam. Mas, estranha é a psicologia humana. Os anos se passam , e cada vez ficamos mais estranhos uns com os outros. Cada vez é menor o número de pessoas com quem falamos. O todo, a intercomunicação espacial não propicia uma boa comunicação geral. Relacionamo-nos com vizinhos próximos, e comedidamente. Grande é o constrangimento de adentrar-se uma baia totalmente estranha. Uma sensação de penetrar território inimigo. E fica-se, cada um no seu canto, solitários e grupilhos. Sem querer querendo, é uma boa maneira de administrar esta gente, tão desagregada.

Dizem que o criador dos espaços com baias, na década de 50, arrependeu-se de sua criação. Mas ela ganhou pernas próprias. Com esta semi-divisão espacial, aproveita-se melhor um espaço exíguo. Ele é dividido. É a privacidade sem privacidade, o comum individual. Ouve-se muito. Pouco comenta-se. Pensa-se demais.

Estranho o humano ser.

Um comentário:

Anônimo disse...

Já trabalhei neste (era, em verdade, em outro prédio) lugar quando tínhamos sala. Que saudade da minha sala! Que saudade de quando podia me concentrar sem colocar os dedos nos ouvidos, passar horas lendo e escrevendo, sem ser surpreendido por um grito ou uma risada mais estridente.



Havia a hora de conversar, em que todos paravam o que estavam fazendo e conversavam. Contávamos casos e piadas, bebíamos café, dividíamos os biscoitos e voltávamos a trabalhar.



Com o tempo nos acostumamos com as baias. Aliás, com o tempo nos acostumamos com tudo, e a tudo. Acho que, com o tempo, as pessoas se acostumaram com minha mania de levantar e ficar andando de um lado para o outro; hora parando a vista para Avenida Rio Branco, hora parando a vista para a Baia de Guanabara.



Mas o que fazer? Foi o único jeito que arranjei para descobrir a palavra mais adequada para colocar em um texto, para deixar chegar a verdadeira idéia de que preciso. Pois é, as pessoas também se acostumam a nós.

Cris Kubrusly