SENADOR POMPEU, LEANDRO MARTINS E
CAMERINOS
Hoje peguei um ônibus que me
enganou. Dizia o letreiro luminoso, e mutante, que ele passaria pela Av. Rio Branco.
Mas foi uma pegadinha bem-humorada dos empresários de ônibus, uma categoria prestadora
de um serviço essencial que defeca na clientela, sem alternativas. Qualquer
governo que cuidasse do cidadão teria um canal claro e fácil de reclamações e,
nos casos reincidentes, retiraria a concessão destas empresas.
Mas, o Rio está numa crise de
valores, de instituições, de autoestima.
Talvez seja a crise que se abate sobre todo o Brasil.
Uma grande parte
da população, pobre e com baixo nível de educação, não demanda suficientemente melhorias
na cidade, melhorias nos serviços prestados pelo estado e, pior, muitas vezes
sequer imagina que podem ser melhores. Uma outra parte da população, classe
média mais alta, paga do bolso (além dos impostos) pelos serviços de que
necessita – saúde, educação e transporte. Então, não os demanda do Estado também.
E na cidade, palco da vida inteira para muitas
pessoas – gente que viverá e jamais sairá
dela – os serviços, que definem suas vidas, são muito ruins. A cidade, como palco
para a vida está em ruínas, e as alternativas são poucas.
Veja o que motivou este texto.
Hoje, ao tomar o ônibus errado, como disse no começo do texto, desci no pior,
porém o melhor lugar que pude: na Central do Brasil. Como aquela é uma central
de trens, e estes são “populares” (trens no Rio e no Brasil são para o povão),
tudo no seu entorno está degradado. O casario está despencando, as ruas estão sujas
e esburacadas, as calçadas, se existem, estão depredadas e as pessoas seguem,
na maioria, este mesmo padrão.
Como gosto de caminhar e não me
acanho em fazê-lo - ainda que por longas e incertas distâncias – saí da Central,
pela Rua Senador Pompeu. Fui seguindo
intuitivamente em direção à Av. Rio Branco, meu destino. Percorri a rua inteira,
e quantas fantasias percorreram a minha mente!
Imaginei ali uma ciclovia (moleza
conectar a Av. Rio Branco, ou o Centro “em bom estado”, com a Central!). Depois,
imaginei como poderia tornar este bairro, no interregno entre uma parte mais ou
menos OK do Centro, com a Central. Uma área desperdiçada e linda. Os imóveis antiquíssimos ali são, em geral,
imensos. A maioria não vê uma demão de tinta há uns bons 100 anos. Há
galpões hiper-sub- aproveitados. Sujos, cheios de entulhos, lixos, carros
velhos, máquinas antigas. Mas o que fazer numa região destas? Gentrificá-la? Chamar
um Eike Batista da vida, comprar tudo, por um preço vil, modernizar, restaurar
e colocar cafés e livrarias? Sim a fantasia passa por aí. E se a cidade, num
surto de urbanismo cidadão, isentasse de IPTU e financiasse a melhoria
orientada na região? Restauração dos casarões, arborização, calçamento das
visa, colocação de novo e adequado
mobiliário urbano?
As cidades, ao menos as brasileiras,
vivem este dilema. Ou se entregam ao financiamento privado - e no caso do capitalismo
tropical, ao se entregar algo ao empresário, não se fiscaliza. Fica a seu cargo
decidir o que e como fazê-lo, pois , cremos que quem paga tem todo o direito. Ou não fazem isto. Se a cidade não pode bancar
a melhoria de um bairro valioso, central e com tradição, como este, que sim,
faça parceria com o empresário mas com orientação estrita. Restauração, atividades, etc...Não vale a pena fazer isto
neste bairro? Quem se habilitará?
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