terça-feira, 9 de agosto de 2011

Depilação e consciência ambiental...uma lenda pessoal!

Nunca depilei minhas pernas. Enquanto minhas amigas, na adolescência, exploravam os segredos da depilação, eu, diante da pressão "normalizadora", recuei. É que me habitava uma crença de foro íntimo: estava seguríssma que, num futuro não distante dali, passaria a viver, sem retorno, numa imensa e cerrada floresta tropical, a Amazônia...e lá, não haveria Gillettes ou Phillishaves...

Numa arqueologia de mim, pergunto porque esta lenda pessoal, gerada na infância, persistiu dentro de mim quando eu já assistia a complexos filmes de arte no Cine Bijoux? Memórias revelam hoje que sempre observei a cidade em meu redor. E São Paulo, por onde eu caminhava naqueles anos, enfeiava-se mais e mais, sem fim. Não era possível que ninguém visse e sentisse o mesmo! O ar era irrespirável. As ruas, tornaram-se , em poucos anos, lotadas de carros que soltavam fumaça em tons de negro. O trânsito, naquela década em tudo cinzenta, a década de 70, já era infernal. Plantas mirradas brotavam das rachaduras do asfalto fechado que pavimentava o caminho para a escola. Mendigos estiravam-se por ruas garbosas dos "jardins", cheios de filhas e filhos. Não havia mais quase verde. Todos os dias, árvores eram cortadas - imensas sibipirunas. Umas outras soltavam tristes uma tinta vermelha. As casas no caminho da minha infância, com jardins, e florzinhas lilás, foram sendo soterradas por prédios escuros ou chiques, envidraçados com modernos vidros "fumê".

Passamos vários dilúvios. E nada melhorou. Ruas são mais do que infernais. Milhares de filhas e filhos vivem nelas. Prédios, ainda mais horrendos, soterram e condenam, sombreando-as, as casas que resistem. O pequeno comércio de rua, pobre, remediado ou rico, sucumbe aos conglomerados - mercados gigantes e shopings alucinados. Árvores, finalmente lembradas, são agora plantadas em meio a tráfico intensíssimo, na margem artificial da marginal de um rio morto qualquer.Carros tem filtros, mas o seu número, milhares de vezes maior, 'compensa' em muito a redução de emissões individuais.

Minha lenda pessoal habita agora um deserto. Convenci-me de que não morarei, nem morrerei, na floresta selvagem, lá onde estou certa que se vive com pouco, onde se come do que o ambiente oferece, sem venenos, onde se bebe água dos rios, onde se vive em tribo e não se destrói a mata. Sei de meu destino urbano. E das notícias que vem da Amazônia, as coisas estão ainda muito mais decepcionantes. Tudo indica que há muita luta dura a ser lutada, com peixes muito grandes.

Enquanto luto virtualmente com toda as minhas forças do meu ser, contra todas as forças do dinheiro que destroem a floresta das nossas vidas... por precaução, ainda não me depilei. Sabe lá as voltas que a vida pode ainda dar...

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