segunda-feira, 30 de junho de 2014

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS EM AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS

Mestrado Profissional em Propriedade Intelectual, Inovação e Desenvolvimento

MICRO E PEQUENAS EMPRESAS EM AGLOMERAÇÕES PRODUTIVAS

Disciplina: Proteção à PI nas Micro, Pequenas e Médias Empresas.
 Docente: Elizabeth Ferreira da Silva
Autoria: Maysa Blay


1.     INTRODUÇÃO

Em 1973, o economista britânico E.F Schumacher publica o livro Small is Beautiful, de importância capital, afrontando os caminhos que a economia mundial percorria, com a crença de que o sucesso econômico estava nas grandes empresas. Era também, um momento de severa crise energética e de emergência do processo de globalização. Como ponto central de seu trabalho, Schumacher aponta as fraquezas do sistema industrial moderno, dentre elas, o fato deque as grandes empresas não se sustentam sobre as bases em que se assentam, isto é, as bases constituídas por recursos naturais e recursos humanos. As ideias de Schumacher estão subjacentes às visões empresariais que apontam para a relevância econômica das micro, pequenas e médias empresas (MPME), como aponta Jair Amaral Filho (2002). A própria análise econômica, nas últimas décadas, muda o seu foco, da ênfase na grande empresa como principal agente econômico, para pequena empresa (SANTOS, 2013).
Amaral (2002) acrescenta que as mudanças econômicas, ocorridas desde a década de 80, criaram um ambiente propício para o florescimento de empresas de pequeno porte.  No setor industrial, Amaral indica a desestruturação vertical de grandes empresas, livrando-se de suas estruturas burocráticas e de competências que ele descreve como “não essenciais”; desta forma, abrem-se janelas de oportunidade para pequenas empresas, muitas vezes, formadas por quadros de pessoal saídos das empresas de grande porte.  No Brasil, as pequenas empresas respondem, segundo dado do BNDES (ANDRÉ, 2010|), por mais da metade dos empregos formais no país. As MPE, no país, correspondem a 99% das empresas formais no território nacional, a 25% do PIB e a 405 de sua massa salarial (SEBRAE, 2012).
As pequenas empresas podem também se agrupar e alcançar, dentro de agrupamentos produtivos, maior desenvolvimento econômico e social do que na situação de isolamento. Estas aglomerações receberam, ao longo de anos em são alvo de estudos acadêmicos, distintas denominações. São conhecidas como distritos industriais, clusters, no caso brasileiro, Arranjos Produtivos Locais (APL), e outras. Pela sua importância tem sido alvo de atenção do Banco Mundial e outras agências de fomento econômico que voltam suas atenções para países emergentes.  A ênfase destas iniciativas está na promoção da economia local e regional através da inter-relação entre micro e pequenas empresas (SANTOS, 2013).
A importância dos arranjos produtivos é atestada em inúmeros trabalhos nacionais e estrangeiros, mas fundamentalmente todos partem dos conceitos pioneiros de Alfred Marshall (1890). Resumidamente, analisando os distritos industriais da Inglaterra no final do século XIX, o autor observa que a concentração de firmas resulta em vantagens competitivas que, de outra forma, não seriam verificadas. Dentre as “externalidade positivas” derivadas da aglomeração de empresas, Marshall aponta para o adensamento de mão-de-obra especializada numa mesma localidade, a facilidade na obtenção de matérias primas, insumos e serviços, a disseminação de conhecimentos, a cooperação e o compartilhamento de aprendizados. Schmitz (1997) agrega ao tema a ideia da “ação conjunta” que reúne todas as estratégias que conduzem o coletivo de atores de um determinado espaço aos seus objetivos comuns, e que podem se dar de forma horizontal, entre empresas de mesma atuação, e de forma vertical, entre membros de diferentes níveis de uma cadeia produtiva.
Estes agrupamentos ocupam e compartilham de um mesmo território e se articulam em interações cooperativas e com outros atores locais – governos e instituições de ensino, pesquisa e crédito. As APLs tem o dom de promover a inclusão do capital social e de alavancar o desenvolvimento local (SILVA; MACHADO, s.d.). Para Cezarino e Campomar (2006) as maiores vantagens são a criação de capacidades consolidadas e para defesa de interesses coletivos, o compartilhamento de informações, a escala de produção, o poder de barganha, a infraestrutura de apoio, fornecedores especializados, o acúmulo de renda – que pode ser reinvestido na própria atividade -, e a massa de trabalhadores especializados.
As APLs são, em geral, iniciativas setoriais e territoriais de pequenos negócios que se reúnem e integram em busca de maior desenvolvimento socioeconômico local. A Rede de Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (REDESIST) [1] define APLs como:
“Arranjos Produtivos Locais são aglomerações territoriais de agentes econômicos, políticos e sociais – com foco em um conjunto específico de atividades econômicas - que apresentam vínculos mesmo que incipientes. Geralmente envolvem a participação e a interação de empresas – que podem ser desde produtoras de bens e serviços finais até fornecedoras de insumos e equipamentos, prestadoras de consultoria e serviços, comercializadoras, clientes, entre outros – e suas variadas formas de representação e associação. Incluem também diversas outras instituições públicas e privadas voltadas para a formação e capacitação de recursos humanos (como escolas técnicas e universidades); pesquisa, desenvolvimento e engenharia; política, promoção e financiamento”.
Segundo Amaral Filho (2002), os aglomerados produtivos permitem que micro e pequenas empresas solucionem problemas decorrentes de seu isolamento e, coletivamente, cooperando, desenvolvam-se, alcançando eficiência produtiva e a expansão a novos mercados. Conseguem também, em associação, auferir economias de escala por atuarem em produção compartilhada.
No Brasil, o estado vem atuando na criação de políticas públicas voltadas para a promoção das APLs desde o Plano Plurianual de 2000. Existe no país, desde então, o Grupo de Trabalho Permanente para as APLs (GTP APL), conectado ao Ministério do Desenvolvimento e Comércio Exterior (MDIC) e integrado por instituições, públicas e privadas. O resultado desta mobilização é a existência dos Núcleos Estaduais de Apoio à APLs, presentes em cada estado membro da federação e um crescente número de APLs por todo o país (MDIC, 2012).
O presente trabalho, tendo introduzido o tema da relevância das aglomerações produtivas de micro e pequenas empresas, dispõe, abaixo, três trabalhos acadêmicos que abordam, a partir de perspectivas distintas, as APLs. No primeiro caso, é examinada a região da Amazônia Ocidental, composta pelos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, e observam-se, em cada caso, as potencialidades econômicas das APLs e o quanto contribuem para o PIB estadual. No segundo trabalho apresentado, o arranjo produtivo investigado é o do artesanato de palha da carnaúba, no município cearense de Massapê, ainda não formalizado como APL, mas já produzindo os efeitos benéficos da associação dos produtores. E no terceiro trabalho, há uma tentativa de averiguar-se como se dá o avanço sobre um arranjo produtivo a partir do reconhecimento deste como Indicação Geográfica.

2.     RESUMO E RESENHA DO TEXTO “OS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS COMO ESTRATÉGIA PARA O DESENVOLVIMENTO ECONÔMICO DA AMAZÔNIA OCIDENTAL”.

No trabalho acadêmico denominado “Os arranjos produtivos locais como estratégia para o desenvolvimento econômico da Amazônia Ocidental” (MARQUES et.al., 2010) atenta-se aos desdobramentos econômicos advindo da criação de APLs na região dos estados do Amazonas, Acre, Rondônia e Roraima, que são parte integrante da denominada Amazônia Ocidental.
Os pontos mais enfatizados pelos autores são a capacidade das aglomerações produtivas de gerar empregos e renda e de contribuir para desenvolvimento econômico local e regional. Ressaltam que estes fatores trazem a implementação de novas políticas públicas para a região.  
Para os autores, há um grande potencial produtivo na Amazônia Ocidental, a partir da diversidade de recursos naturais principalmente nos segmentos de apicultura, gado - corte e leite, cultura de mandioca, mobiliário, artesanato, extratos de frutas regionais e piscicultura. Apontam também as dificuldades de articular os distintos atores na região, as grandes distâncias e as dificuldades de comunicação neste território, que dificultam o desenvolvimento de suas potencialidades.
Seu estudo mostra que, particularmente, os produtos in natura tiveram, a partir da estruturação de APLs na região, uma considerável melhoria na sua competitividade. Distantes da situação ideal dos Sistemas Produtivos e Inovativos Locais[2], as APLs ali existentes, promovem:
a.       Maior agregação de valor aos produtos locais;
b.      Menor êxodo de habitantes da região de seus locais de origem.
c.       Maior engajamento da população local no desenvolvimento econômico derivado dos recursos naturais disponíveis;
d.      Melhoria nos índices econômicos locais;
e.       Descentralização econômica regional;
f.       Maior compartilhamento de informações e grau de aprendizagem. 
Os fatores acima apontados são, na opinião dos autores, determinantes na geração de renda para os naturais dos estados que compõem as APLs da Amazônia Ocidental. Isto é determinante na compensação pelos desequilíbrios regionais. As APLs são promotoras de emprego e renda, na forma direta e indireta, e estimulam a economia local dos ambientes onde estão inseridas.  
No caso particular do Estado do Amazonas, onde a economia está centrada no Polo Industrial de Manaus (PIM), cuja contribuição para a economia estadual está em torno de 69% (PORTAL BRASIL, 2009). O modelo do PIM, que se concentra numa região, é distinto do modelo das APLs, pois, neste caso, há uma influência que se desconcentra, espalhando-se por todo o estado. As APLS que aí tem se mostrado mais vigorosas são as da cultura da mandioca, do artesanato, fruticultura do abacaxi, produção de mobiliário e da piscicultura.
No Estado do Acre, diferentemente do Amazonas, há dois polos principais, o do vale do Juruá e do vale do Acre. Nestes polos, destacam-se a indústria e a prestação de serviços. As APLs que se sobressaem no estado são as do extrativismo da castanha, de madeira e mobiliário. Os autores demonstram uma forte tendência regional para a cultura de subsistência com cultivos de mandioca, milho, arroz, feijão e banana (PORTAL BRASIL, 2009), um forte indicador da potencialidade para desenvolvimento de APLs no Acre.    
Roraima, por seu turno, tem na mineração, indústria e agroindústria suas principais atividades e econômicas. A base produtiva (PORTAL BRASIL, 2009) resta sobre a produção de arroz, feijão, milho, mandioca e banana, além de atividades na pecuária, no extrativismo animal, vegetal e mineral. As APLs regionais em Roraima centram-se na apicultura e gado - corte e leite.
Rondônia, além de ter atividades industriais e um razoável setor de prestação de serviços, tem como fortes atividades econômicas a extração de borracha e madeira.   No ramo industrial, Rondônia caminha de acordo com as atividades agrícolas e minerais, onde as industriais localizam-se próximo à fonte de matérias-primas (Portal Brasil, 2009). No que se refere a APLs, as principais lidam com madeira e móveis, gado de corte e leite, apicultura e piscicultura.
As APLS na região da Amazônia Ocidental surgiram da necessidade de desconcentrar a geração de emprego, renda e desenvolvimento, polarizada em alguns pontos, como no Polo Industrial de Manaus. Sendo esta parte do país megadiversa, o desenvolvimento ali encontra importantes oportunidades no seu emprego. É onde as APLs se inserem, propiciando a elevação dos índices econômicos locais e ampliando sua participação no PIB estadual. As APLs tem também sido alvo de políticas públicas dos Governos Estaduais que trabalham no sentido de prover vantagens competitivas para fortalecimento de setores produtivos.
Concluem os autores que há grande potencial na Amazônia Ocidental para novos investimentos e a necessidade de políticas públicas renovadas que melhor avancem no incentivo às APLs.  As APLs já estabelecidas devem se consolidar, no sentido de melhora de seus marcadores econômicos, sociais e culturais; novas APLs que surgirem deverão, na visão dos pesquisadores, aproveitar as oportunidades fornecidas pelos insumos regionais biodiversos.

3.     RESUMO E RESENHA DO TEXTO “ARRANJOS PRODUTIVOS DO ARTESANATO DE PALHA DA CARNAÚBA: O CASO DE IPAGUAÇU (MASSAPÊ)”

A pesquisa “Arranjos Produtivos do Artesanato de Palha da Carnaúba: o caso de Ipaguaçu (Massapê)” (SILVA; MACHADO, s.d.) indica que os autores buscam compreender a organização, a origem, o perfil dos participantes e as dificuldades enfrentadas pelos arranjos produtivos de artesanato de palha de carnaúba, no distrito de Ipaguaçu, no município de Massapê, no estado do Ceará. A região, assinalam, conforma-se em uma aglomeração produtiva que não está formalmente identificada como APL.
A pesquisa foi feita a partir de entrevistas concebidas pelo Programa Ceará Empreendedor (PCE) e dirigida ao grupo de quinze artesãs da palha da carnaúba. As principais questões abordadas referem-se a: produção, mercados, geração de emprego e renda, inovação, cooperação, aprendizado, estruturas de governança, vantagens derivadas da associação de produtores locais e políticas públicas e formas de financiamento.
Através do PCE, estas micro empresas familiares e informais, constituíram-se, inicialmente numa rede que passou a ser denominada Raiz de Palha. A conexão de cada família produtora de artesanato com o Raiz de Palha é informal: eles se beneficiam da estrutura que a associação lhes oferece. 
O perfil predominante das artesãs é de pessoas na faixa etária entre 25 e 35 anos, casadas, com baixo grau de instrução. Os degraus de produção do artesanato estão divididos em etapas levadas à frente ora pelas famílias em isolamento, ora pelo coletivo, que se reúne para uso de um mesmo espaço, equipamentos e /ou instruções.  Para capacitar-se, o coletivo teve o apoio do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas (SEBRAE). O Governo Estadual do Ceará, através da Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial do estado (NUTEC) também apoiou o grupo provendo-lhe com equipamento para secagem da palha. A Central de Artesanato do Ceará (CEART), por sua feita, foi pioneira na capacitação de artesãos e segue atuando na facilitação da comercialização de produtos artesanais. 
Além de o arranjo produtor estar despertando a atenção das instituições acima mencionadas, outro fato positivo do grupo é que a compra insumos é feita coletivamente, abarcando, neste processo artesãos de outras regiões vizinhas para que se agreguem nas aquisições e, assim, reduzam-se as despesas com transporte e ganhe-se na economia de escala.


Arranjo produtivo: Artesãs trabalham a palha de carnaúba 

Conclui-se que o arranjo produtivo de Ipaguaçu está de fato em fase de consolidação, demonstrando já o bem sucedido associativismo entre as artesãs. Sua atividade geradora de renda é complementadora de intensas interações sociais. E mesmo não estando formalizado como APL, o arranjo já proporciona ocupação e renda para o grupo e sua identificação com o território, uma vez que sua principal matéria prima, a palha de carnaúba, está ali disponível. Existe ali também um processo de inovações altamente interativo e propiciado pelas instituições parceiras: o Programa Ceará Empreendedor, o SEBRAE, a CEART, o Governo Estadual do Ceará, e a Fundação Núcleo de Tecnologia Industrial.  Ao que se conclui que a transformação desta aglomeração produtiva em uma real APL é, ao que parece aos estudiosos, um passo importante.

4.     RESUMO E RESENHA DO TEXTO “MAIS ALÉM DOS ARRANJOS PRODUTIVOS LOCAIS: AS INDICAÇÕES GEOGRÁFICAS PROTEGIDAS COMO UNIDADES DE DESENVOLVIMENTO LOCAL”

O terceiro texto selecionado para análise denomina-se “Mais Além dos Arranjos Produtivos Locais: As Indicações Geográficas Protegidas como Unidades de Desenvolvimento Local” (CALDAS et.al., 2005) e, nele, os autores buscam refletir sobre o acréscimo de valor que as Indicações Geográficas (IGs), particularmente as que assinalam produtos alimentares, podem trazer aos arranjos produtivos.
As APLs são, definidas no trabalho, como formas organizacionais que favorecem a produção de grupos coletivos de micro e pequenas empresas. O reconhecimento destes territórios, acrescem os autores, como Indicação de Procedência (IP) ou Denominação de Origem (DO), agrega valor aos produtos que dali são escoados para o mercado.  Além disto, observam, os arranjos produtivos selados como IG, tendem a promover melhorias na maneira de produzir, desencadeando, desta maneira, um melhor sentido coletivo de autoestima e a ascensão de novos e melhores padrões indicativos de qualidade de vida.
O trabalho faz a interessante reflexão de que, no cenário econômico atual, o conhecimento sobre a procedência de produtos, especialmente os agrícolas, tem ganhado grande relevância. Apontam que questões como rastreabilidade dos alimentos, informações sobre seu modo de produção, e até de seu processo comercial, estão em voga entre consumidores no continente Europeu, no Japão e nos Estados Unidos, e este fato, abre interessante janelas de oportunidades para as regiões periféricas do mundo, como o Brasil. As IGs, que despontam no Brasil.
Também discorrem, na pesquisa, sobre o desenvolvimento local como instrumento para suprir necessidades locais imediatas e valorizarem-se os aspectos cultuais e sociais dos grupos envolvidos. O investimento local permite que se desenvolvam as potencialidades territoriais.  Neste ponto, os autores reclamam por mais políticas pública que sejam orientadas para estes agrupamentos de pequenas empresas para que estas sejam inseridas nos processos produtivos regionais e mesmo nacionais.  
O texto que promete ao leitor indicar uma importante reflexão sobre o avanço que o reconhecimento de determinado território como Indicação Geográfica (IG) pode trazer para os arranjos produtivos, em verdade, se perde na explanação correta do significado e da diferenciação entre Indicação de Procedência (IP) e Denominação de Origem (DO). O texto indica como uma sequência de eventos graduada a atribuição inicial, a um território, do reconhecimento como IP, para em seguida, num status superior, como DO – que, de fato, não o existem, uma vez que são distintos reconhecimento, sem graduação. 
Em realidade, a IG, um instrumento de PI reconhecido pelo INPI – através da aplicação da Lei da propriedade Industrial, Lei 9270/96 – possui duas categorias:
a.       IP, que é um reconhecimento legal para produtos, ou serviços, conectados a um território, e que desfrutam de reputação territorial e/ou extraterritorial. A IP reconhece a fama
b.      DO, que está associada à reputação, mas que possui elementos biogeográficos derivados do território assinalado. Podem ser eles climáticos edáficos e outros, que tenham um traço inseparável com a reputação dos produtos em questão.
O que se tem, na realidade, é uma distinção não graduada de características dessas duas ferramentas de Propriedade Industrial, a IP e a DO funcionam independentemente.
O que de mais interessante se extrai do trabalho é a interessante observação de que, dependendo das características dos produtos ou serviços desenvolvidos em determinado território, um arranjo produtivo de micro de pequenas empresas pode ser beneficiar do reconhecimento dos frutos de suas atividades como IG.  Ademais, as IGs, tantos as IP, como as DO podem se expandir diante da progressiva percepção de consumidores da necessidade de se conhecer aquilo que se adquire, especialmente alimentos. Atestando, e somando a isto, está o despontar de tendências de mercado, a nível mundial, de movimentos como o Slowfood, de expansão dos espaços para produtos orgânicos e do Comércio Justo, presente no mundo todo.  

5.      CONCLUSÕES FINAIS
As micro, pequenas e médias empresas, mundo afora, enfrentam desafios competitivos contemporaneamente. Uma das respostas a estes estímulos desafiadores é a integração destas firmas, em aglomerações produtivas, que estejam engajadas em atividades semelhantes ou até mesmo complementares. Estes arranjos de produção podem ser chamados de clusters, distritos produtivos ou, como se cunhou no Brasil, de Arranjos Produtivos Locais – APLs.  
No presente trabalho, buscou-se, através da investigação de três trabalhos acadêmicos distintos, conhecer distintas abordagens ao tema das APLs como propulsoras de vantagens competitivas às empresas que delas participam.
No primeiro texto, que discorre sobre a Amazônia Ocidental, observa-se que os autores veem que as APLs, situadas nos quatro estados investigados, produzem externalidades positivas, decorrentes da utilização de insumos locais – com a rica biodiversidade da região - e das potencialidades dos territórios e, desta maneira, alavancam economicamente esta parte do Brasil - historicamente relegada - contribuindo para a elevação dos PIB em cada estado.
No segundo texto, é investigado o município de Massapê, no Ceará, mais particularmente a micro região do Ipaguaçu, onde mulheres produzem artesanato empregando uma matéria prima abundante local, a fibra da carnaúba. Mesmo sem ser identificado como APLs, o agrupamento já desfruta de avanços perceptíveis decorrentes de sua articulação associativa. Dispõe também da positiva atenção de instituições nacionais, como o SEBRAE, e estaduais, como o Ceará Empreender e o CEART, que lhes auxilia na distribuição de produtos.
No terceiro caso, os autores buscam compreender os avanços propiciados pela atribuição do reconhecimento de territórios como IG, sobre os arranjos produtivos.  Com propriedade, afirmam que existe no mundo hoje um rol de oportunidades abertas a esta natureza de ferramenta de PI, uma vez que elas permitem um rastreamento parcial ou total dos produtos, e o mercado, a nível global, está interessando em poder conhecer as origens daquilo que consomem. Os autores apontam para as vantagens competitivas de se avançar, nos arranjos produtivos, com a busca por reconhecimento de produtos ou serviços como IP ou DO. Desta forma, assinalam para a vantajosa confluência de instrumentos de desenvolvimento econômico.
São inegáveis as vantagens competitivas proporcionadas às micro, pequenas e médias empresas pela sua associação em redes ou APLs, e mesmo em agrupamentos que não estejam assim enquadrados. Os textos investigados apontam para estas vantagens em diferentes situações. Fica claro, a partir do que se depreende dos estudos, que a articulação de instituições públicas – com suas políticas - e privadas, no sentido de apoiar, capacitar e orientar as aglomerações produtivas, como as APLs, pode trazer grandes benefícios econômicos e sociais para distintas regiões do extenso e diverso território brasileiro.

6.     REFERÊNCIAS BIBIOGRÁFICAS

AMARAL FILHO, J. É negócio ser pequeno, mas em grupo; desenvolvimento em debate: painéis do desenvolvimento brasileiro. Rio de Janeiro: BNDES, 2002.
ANDRÉ, Reginaldo. A importância das micro e pequenas empresas para a economia do país. 2010. Disponível em http://www.administradores.com.br/artigos/economia-e-financas/a-importancia-das-micro-e-pequenas-empresas-para-a-economia-do-pais/48688/ Acesso em jun. 2014.
CALDAS, Alcides; CERQUEIRA, Patrícia; PERIN, Teresinha. Mais além dos arranjos produtivos locais: as indicações geográficas como unidades de desenvolvimento local. Revista de Desenvolvimento Econômico. Vol. 7, n. 11.2005.
CASSIOLATO, J.; LASTRES, H. E.; Arranjos e sistemas produtivos locais e proposições de políticas de desenvolvimento industrial e tecnológico. NT 27 - Projeto de pesquisa arranjos e sistemas produtivos locais e as novas políticas. Rio de Janeiro, 2005.
CEZARINO, Luciana; CAMPOMAR, Marcos C. Vantagem competitiva para micro, pequenas e médias empresas: clusters e APLs. ICEG. PUCMINAS. 2006. Disponível em< http://www.iceg.pucminas.br/espaco/revista/12_Vantagem%20competitiva%20para%20micro,%20pequenas%20e%20m%C3%A9dias%20empresas.pdf> Acesso jun. 2014.
MARQUES, Andressa O.; MACEDO, Cristianne S.; KUWAHARA, Nelson; ANDRADE, João Bosco L. Os arranjos produtivos locais como estratégia para o desenvolvimento econômico da Amazônia ocidental. XXX Encontro Nacional de Engenharia de Produção. 2010. Disponível em < http://www.abepro.org.br/biblioteca/enegep2010_TN_STP_119_779_16454.pdf> Acesso em jun. 2014.
MARSHALL, A (1890). Principles of Economics: An Introductory . 8th ed. Disponível em< http://oll.libertyfund.org/titles/1676 Acesso em jun. 2014.
MDIC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. 2012. Ações e programas: arranjos produtivos locais – APLs. Disponível em http://www.mdic.gov.br/sitio/interna/interna.php?area=2&menu=300 Acesso em jun. 2014.
PORTAL BRASIL. Estados Brasileiros. Disponível em: < www.portalbrasil.net> Acesso jun. 2014.
SANTOS, Sandra Carvalho. Competitividade em micro e pequenas empresas de base tecnológica: o caso do vale da eletrônica brasileiro. Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade. Universidade de São Paulo. São Paulo. 2013. Disponível em < http://www.teses.usp.br/teses/disponiveis/12/12139/tde-07112013-204604/en.php> Acesso em jun. 2014.
SCHMITZ, H. (1997) Eficiência coletiva: caminho de crescimento para a indústria de pequeno porte. Ensaios FEE, Porto Alegre, v. 18 n.2 p.164-200.
SCHUMACHER, Ernest Friedrich. (1973). Small is beautiful: economics as if people mattered. Harper Perennial. 1973.
SEBRAE. Serviço Brasileiro de Apoio a Micro e Pequena Empresa. MPE Indicadores – pequenos negócios no Brasil. 2012. Disponível em < http://www.sebraesp.com.br/arquivos_site/biblioteca/EstudosPesquisas/indicadores/indicadores_mercado_de_trabalho_abr_13.pdf>  Acesso em jun. 2014.
SILVA, Napie G.A.; MACHADO, Ruth R. Arranjo produtivo do artesanato de palha de carnaúba: o caso de ipaguaçu (massapê). Universidade Federal do Ceará. Grupo de Pesquisa: Socioeconomia Solidária e Desenvolvimento Local. Disponível em < http://www.sober.org.br/palestra/6/894.pdf> Acesso jun. 2014. 



[1] A REDESIST é a Rede de Pesquisa em Sistemas e Arranjos Produtivos e Inovativos Locais, grupo interdisciplinar formalizado em 1997, com sede no Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro e tem a participação de outras universidades e institutos de pesquisa do Brasil, América Latina, Europa e Ásia.
[2] Os Sistemas Produtivos e Inovativos Locais (SPILs), descritos por Cassiolato e Lastres (2005), envolvem, num determinado território, atores econômicos, políticos e sociais, atividades econômicas correlatas, e sua interação, cooperação e engajamento em aprendizagem; são produtores de bens e serviços, que mantem relações com consumidores, comercializadoras, e estratégias de desenvolvimento, promoção e financiamento

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