quinta-feira, 28 de novembro de 2013




“Maria da Graça” 
 Recepção, Separação e 
Correto Encaminhamento de “E-lixo”

Potencial Indicação Geográfica

Mestrado Pofissional em Propriedade Intelectual e Inovação
Trabalho para a Disciplina Introdução à Indicaçao Geográfica
Professora: Lúcia Regina Fernandes
Autoria: Maysa Blay Roizman
e-mail para contato: maysablay@gmail.com


1.  Identificação de uma Potencial Indicação Geográfica (IG) brasileira


Em Maria da Graça, bairro da Zona Norte do município do Rio de Janeiro, ocorre o processamento especialíssimo de materiais eletrônicos descartados.  Ali opera um polo de recepção, separação e correto encaminhamento de resíduos eletrônicos (Fig.1). Maria da Graça é referência para a separação integral dos componentes do “e-lixo” e sinaliza como sendo uma potencial Indicação Geográfica para estes serviços.
          


Figura 1. Mesa de separação de "e-lixo" no galpão da COOPAMA em Maria da Graça (OGLOBO, 2013)

2.  Maria da Graça – uma Indicação de Procedência (IP) potencial

Duas modalidades de Indicação Geográficas são apresentadas na Lei 9279 de 1996, Lei da Propriedade Industrial (LPI): a IP e a Denominação de Origem (DO). A IP é a que se adequa ao caso do polo de separação e correto encaminhamento de resíduos eletrônicos de Maria da Graça. Trata-se, além disto, de uma potencial IP para serviços. A região compreendida pelo quadrilátero em torno da estação de Metrô de Maria da Graça está associada ao tratamento adequado do “e-lixo”. Esta reputação foi adquirida pela localidade para os serviços ali prestados, uma sinalização positiva para o reconhecimento como Indicação de Procedência.

3. Área Geográfica
A área de aproximadamente seis km2 , que corresponde à IP potencial de "Maria da Graça" está compreendida no espaço geográfico de formato quase quadrangular entre a estação de Metrô Maria Graça, e os limites externos da Favela do Jacarezinho e das comunidades próximas, conhecidas como Félix Ferreira e Picapau Amarelo (Fig.2).



Figura 2. Mapa abrangendo Área Geográfica da potencial IP de "Maria da Graça" e apontando o galpão da COOPAMA (Google Maps – Estação de Metrô de Maria da Graça, COOPAMA)
4. Nome Geográfico

O nome geográfico da IP potencial é “Maria da Graça”, identificado como polo de recepção, separação e correto encaminhamento de e-lixo
5. Reputação

“Maria da Graça” possui a reputação de ser um polo qualificado e especializado para recepcionar e tratar de resíduos eletrônicos descartados pela região metropolitana da cidade do Rio de Janeiro[1]. Destaca-se, na construção gradual de sua imagem e fama, a Cooperativa de Amigos do Meio Ambiente (COOPAMA), grupo central na liderança no desmonte do lixo eletrônico. Esta cooperativa de catadores de materiais recicláveis foi, a partir de 2003, “incubada” dentro da Incubadora Tecnológica de Cooperativas Populares (ITCP) da Coordenação de Programas de Pós-Graduação em Engenharia (COPPE), da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Ela não abandonou seus trabalhos com resíduos convencionais, mas agregou, às suas funções, técnicas especializadas para um refinado desmonte de aparelhos eletrônicos. Qualificou-se para a separação de placas eletrônicas – que contém ouro, cobre e prata - de plásticos, vidros, e outros componentes. Os materiais são recuperados para sua posterior destinação (O GLOBO, 2013). A COOPAMA, que atuou também na formação e ampliação de uma rede local de catadores e separadores do “e-lixo”, possui assim um importante papel na transformação da região de Maria da Graça em polo especializado de tratamento de resíduos eletrônicos. 
Alguns fatores reforçam as perspectivas de avanço do polo de recepção e separação de lixo eletrônico de “Maria da Graça”: primeiramente, sua área geográfica, antes industrial, foi gradativamente perdendo postos de trabalho com o processo de desindustrialização.  Sem emprego, as comunidades locais, como a comunidade do Jacaré, organizaram-se e passaram a atuar no recolhimento e separação do lixo reciclável gerado na própria comunidade e em regiões próximas. Destes arranjos, nasceram grupos que se organizaram em cooperativas, como a COOPAMA. Um segundo fator decisivo para o estabelecimento e renome do polo é a iniciativa da ITCP da UFRJ, que ao recepcionar e qualificar a cooperativa, abriu-lhe uma nova perspectiva de trabalho no segmento de reciclagem. E esta especialização no trato com o “e-lixo” e a capacidade de recepção de grandes volumes de material atende à crescente demanda social, empresarial e institucional pelo correto encaminhamento de lixo eletrônico descartado.
É importante frisar que a qualificação da COOPAMA, central no polo de “Maria da Graça” como processadora especializada de materiais eletrônicos descartados, e sua capacidade de processar grandes quantidades de materiais fez com que os membros da cooperativa, e os grupos parceiros pertencentes à rede que em se formou em torno dela, tivessem seus ganhos econômicos aumentados.  De uma média de R$ 0,30 obtida por quilo de materiais convencionais, os ganhos subiram para até R$ 12,00, valor de mercado de uma placa eletrônica recuperada sem danos. Decorrentes das melhorias econômicas, ocorreram significativos avanços em parâmetros sociais da região em torno do polo - organizacionais, de saúde e de capacitação.

6. Considerações finais em favor da IP para “Maria da Graça”

O reconhecimento de “Maria da Graça” como IP para recepção, separação e correto encaminhamento de “e-lixo” conferirá à região de abrangência o registro de qualidade dos serviços prestados que a sociedade, cada vez mais consciente de questões sociais e ambientais, demanda. Além disto, a IP pode ser uma importante ferramenta de orgulho coletivo e dinamismo na região (Kakuta, 2006), pois abrangerá os envolvidos em todos os pontos da cadeia, desde o recolhimento, até a negociação para venda, promovendo a boa imagem da região e apresentando um bom exemplo para a sociedade, com a melhoria de parâmetros sociais.

7. Referências
Ambiente - Fábrica Verde. Governo do Rio de Janeiro.  http://www.rj.gov.br/web/sea/exibeconteudo?article-id=766871 Acesso em 21 de jul. de 2013
Brasil, lixo eletrônico pode gerar empregos verdes e desenvolvimento sustentável. The World Bank. quatro de fevereiro de 2013. http://www.worldbank.org/pt/news/feature/2013/02/04/e-waste-management-tablets-phones-computers-Brazil-environment-sustainable-development. Acesso em 20 de jul. de 2013. 
CDI transformando vidas através da tecnologia. no link http://www.cdi.org.br/ Acesso em 21 de Jul. de 2013.
Kakuta, Susana Maria. Indicações geográficas: guia de respostas. Porto Alegre. SEBRAE/RS, 2006.  
O GLOBO Online. E–lixo ganhará exército de catadores no Rio. Ludmilla de Lima. 22/5/2-12. http://oglobo.globo.com/rio20/e-lixo-ganhara-exercito-de-catadores-no-rio-4976627  Acesso em 20 de julho de 2013.




[1] A atuação de “Maria da Graça” na recepção e trato com o “e-lixo” não é exclusiva. De expressão nesta área, e atuando em vários estados brasileiros, existem a ONG CDI (CDI, 2013) e a Fábrica Vede (Fábrica Verde, 2013). Ambas recepcionam material eletrônico descartado, capacitam jovens no reparo de manutenção do material, repassam o material recuperado para usuários, e promovem a inclusão digital.  “Maria da Graça” tem uma atuação distinta em recuperação de materiais descartados e separação completa de micro e macro componentes dos equipamentos.  Também se distingue destas instituições pela sua capacidade de recepcionar grandes quantidades (em torno de 12 toneladas) de materiais por mês. 

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